Como reter profissionais gestores em dados no Brasil? State of Data Brazil 2021
O Data Hackers, Bain & Company e a Vector realizaram em 2021, o maior mapeamento do cenário atual da área de dados do Brasil (o relatório completo está no site). Foram mais de 2600 participantes de diferentes localidades no Brasil.

No relatório foi possível identificar diversas perspectivas da área de dados, como a satisfação no emprego atual e os motivos de insatisfação. Numa visão geral, o principal motivo de insatisfação respondido foi o de “Falta de maturidade analítica na empresa”.
Não é novidade que já há algum tempo a área de dados vem crescendo e o mercado está aquecido, formando assim um desafio na retenção de profissionais e estruturação de equipes.
Bom, como aumentar a maturidade analítica da empresa com uma alta possibilidade de rotatividade de profissionais?
Focando na retenção de profissionais gestores, para que assim possa amadurecer a estratégia e objetivos a médio e longo prazo, motivar e inspirar os demais profissionais.
Diante deste contexto, eu fiz uma análise, trazendo “insights” a partir da satisfação no emprego atual de profissionais em cargo de gestão na área de dados.
Esta análise faz parte da competição lançada pelo DataHackers no Kaggle e está aberta para submissões até o dia 12 de julho de 2022.
Ela foi a minha visão como um “bibliotecário de dados” (não deixe de conferir as considerações finais).
Se você gostar dela, peço por gentileza que dê o seu voto no meu notebook no Kaggle, ele será o indicador de qualidade para a competição.
Bora lá?!

Sumário
Limpeza e transformação dos dados
Gostaria de atuar em outra área
Motivo de insatisfação: Servidor público
Participou de entrevistas nos últimos 6 meses?
Você pretende mudar de emprego nos próximos 6 meses?
Motivos insatisfação: “Em busca de oportunidades”
Critérios para decidir onde trabalhar: “Em busca de oportunidades”
Quantidade de pessoas atuando com dados na empresa
Quais responsabilidades fazem parte do seu dia a dia como gestor?
Limpeza e transformação dos dados
O conjunto de dados original possui 356 colunas e foi muito bem estruturado e organizado.
Entretanto eu não precisava de tudo isso para a análise.
Selecionei as colunas que eu queria, limitei a profissionais gestores que moravam apenas no Brasil e que fossem CLT, CNPJ ou servidores públicos.
Também encontrei uma linha duplicada e a excluí.
Mesmo que em ciência de dados é super, super comum ter dados duplicados eu me surpreendi de encontrar uma linha.
Ao final:

Dentre todos esses profissionais, verifiquei qual era a proporção entre satisfeitos e insatisfeitos:

Pude observar que a maior parte dos gestores estão satisfeitos, mas para entender melhor o contexto fui detalhar as demais variáveis.
Análise
Motivos insatisfação
Dentre os gestores, o motivo de insatisfação com maior frequência entre todas as respostas também continua sendo o de falta de maturidade analítica da empresa.

Gostaria de atuar em outra área
Quis verificar a quantidade de pessoas que responderam as mesmas perguntas, para entender se haveria um padrão.
Dei um .value_counts() encontrei algo…
A maior frequência foram de pessoas que tiveram como único motivo de insatisfação o desejo de mudança de área.


É possível que isso seja um indicador inicial que gestores em dados devem anteriormente terem passado por alguma experiência na área de dados e/ou TI.
Situação do trabalho
Dentre o comparativo da situação de trabalho dos gestores é possível observar que o número de servidores públicos insatisfeitos aumenta consideravelmente em relação aos satisfeitos.


Por esse motivo, detalharei quais são os motivos.
Motivo de insatisfação: Servidor público
Além da falta de maturidade analítica, um descontentamento com o salário e a falta de oportunidade de crescimento também lideram as posições dos principais motivos de insatisfação.

Mesmo que cargos públicos geralmente tenham bons salários, provavelmente eles não acompanham os de tecnologia e principalmente com o mercado aquecido de dados.
O setor público é um setor que tem bastante insatisfação por parte dos gestores?
Verificarei no próximo item.
Setor
O setor de tecnologia lidera de principal atuação dos profissionais.

Também foi possível observar que o setor de finanças lidera a segunda posição dentre os gestores satisfeitos.

De fato o setor público está na segunda posição dentre os setores dos gestores insatisfeitos.
Mesmo que seja a longo prazo, isso pode ser um alarme para o setor ter mais atenção a gestão e estratégia da área de dados para que não sofra as consequências futuras.
Consequências que possivelmente trarão prejuízos financeiros, seja em investimento em salários mais altos ou em terceirizações de soluções.
Participou de entrevistas nos últimos 6 meses?
A pesquisa também questionou se os profissionais tinham feito entrevistas ou tinham pretensão de mudar de emprego nos próximos 6 meses.


Podemos observar que mesmo com o mercado de dados aquecido, a maior parte dos profissionais insatisfeitos não participaram de processos seletivos nos últimos 6 meses da pesquisa.
Pode ser que seja pela economia mundial estar passando por dificuldades e/ou porque são profissionais que devido a sua posição enxergam uma “carreira” a médio/longo prazo em uma organização e não desejam sair neste momento.
Você pretende mudar de emprego nos próximos 6 meses?


Talvez a baixa participação em entrevistas, do item anterior, seja de fato por conta da economia (cenário “pós pandemia”), pois a maior parte dos gestores insatisfeitos estão em busca de oportunidades.
É interessante perceber que mesmo entre os gestores satisfeitos, aproximadamente 41% não estão em busca, mas estão abertos a novas oportunidades.
O que mostra um grande desafio para as empresas reterem esses profissionais.
Motivos insatisfação: “Em busca de oportunidades”
Dentre os profissionais que estão em busca de oportunidades o motivo de falta de maturidade analítica continuando liderando o motivo, entretanto a falta de oportunidade de crescimento também entra em segunda posição.

Dentre os profissionais que estão em busca de oportunidades, a busca pela falta de maturidade analítica continuando liderando o motivo, entretanto a falta de oportunidade de crescimento também entra em segunda posição.
Critérios para decidir onde trabalhar: “Em busca de oportunidades”
Quando olhamos os critérios de saída dos profissionais, a remuneração é o principal fator.

Agora, os profissionais que não tem como critério a remuneração/salário, querem ter uma oportunidade de aprendizado e crescimento profissional.

O que não é de se surpreender, pois provavelmente a quantidade de conhecimento, capacidade de entrega e “networking” são elementos que contribuem para a satisfação pessoal/profissional e são fatores decisivos para que a médio/longo prazo a faixa salarial também suba.
Quantidade de pessoas atuando com dados na empresa


Podemos aqui perceber a relação da “maturidade analítica da empresa”, “quantidade de pessoas atuando com dados” e “satisfação dos gestores” se relacionarem.
Não ter uma área específica na empresa atuando com dados, pode levar a gestores se tornarem insatisfeitos, devido a dificuldade de gerenciamento de projetos e entrega de valor a organização.
Quais responsabilidades fazem parte do seu dia a dia como gestor?


Podemos perceber dentre os gestores insatisfeitos, a responsabilidade de ainda precisarem atuar na parte técnica. Possivelmente pelo quadro enxuto ou inexistente de pessoas atuando em dados e/ou da falta de estruturação e maturidade analítica da empresa.
Quais os principais desafios fazem parte do seu dia a dia como gestor?


Dentro da empresa. Conseguir levar valor para os negócios e argumentar para que seja investido na área demonstram que os líderes da empresa ainda não acreditam ou entendem o valor da área de dados.
De fato, não há como realizar análises de valor sem que a área de dados esteja imersa nos negócios da empresa.
Outro ponto notável é o desafio similar entre os dois grupos (satisfeitos e insatisfeitos): “Organizar as informações e garantir a qualidade e confiabilidade”.
É um ponto que chamou atenção, devido a minha visão como bibliotecário (cientista da informação).
Dados precisam de contexto, entendimento, linhagem e análises mais aprofundadas e próximas da realidade do negócio para geraram valor.
Considerações finais
A “falta de maturidade analítica da empresa” é o principal motivo da insatisfação de profissionais de dados no Brasil.
É um problema de início e fim, pois ao mesmo tempo que gera a insatisfação, também acaba sendo o motivo dos profissionais não permanecerem na empresa atrasando o próprio amadurecimento dela.
A retenção de profissionais gestores é um dos caminhos a se seguir para que possa amadurecer a estratégia e objetivos a médio e longo prazo e motivar e inspirar os demais profissionais a permanecerem na empresa trabalhando na sua estruturação.
Mas como reter profissionais gestores em dados no Brasil?
Durante essa análise, pude observar que os principais motivos de insatisfação são:
- A falta de maturidade analítica da empresa.
- A falta de oportunidade de crescimento.
- O desejo de trabalhar em outra área.
Aproximadamente 36% (5 dos 14) dos gestores em dados que o único motivo de insatisfação era de querer trabalhar em outra área, não tiveram\ experiência em TI ou em dados antes do trabalho atual. Com o mercado de dados aquecido, pode ser que haja a necessidade de levar profissionais gestores com outras experiências para liderar projetos. Entretanto, devido as particularidades da área talvez não seja o cenário ideal, pois o profissional não conseguirá gerar mais valor para a companhia, criando assim uma frustração e o desejo de mudar de área.
Os outros dois motivos, acabam liderando as posições a partir das diferentes perspectivas expostas nesta análise.
E até mesmo a falta de oportunidade de crescimento é um problema atrelado a falta de maturidade analítica da empresa.
Como então reverter esse cenário?
A partir dos dados desta análise, das minhas experiências pessoais/profissionais e dos pontos abordados na Live da Bain & Company Brasil: “Como Atrair e reter Talento de dados no Brasil”, trago 3 tópicos que poderão auxiliar nesse problema:
1. Proximidade com o negócio:
Para que a área de dados consiga elevar o nível de entrega do trabalho, ela precisa Podemos aqui perceber a relação da “maturidade analítica da empresa”, “quantidade de pessoas atuando com dados” e “satisfação dos gestores” se relacionarem.
Não ter uma área específica na empresa atuando com dados, pode levar a gestores se tornarem insatisfeitos, devido a dificuldade de gerenciamento de projetos e entrega de valor a organização, resolvendo problemas reais do contexto.
Não necessariamente precisamos de ferramentas ou técnicas complexas, às vezes uma análise específica mas contextualizada, gera mais valor.
Não que precisamos ficar apenas com o Excel, aliás:
“(…) estamos em 2022. O Excel morreu.”
Gabriel Lages, Live da Bain & Company Brasil
É um desafio grande aumentar o contexto dos dados, principalmente devido a organização das informações e garantia da qualidade e confiabilidade (um dos principais desafios dos gestores).
A estrutura do “Big Data” não consegue solucionar esse problema podendo gerar inconsistências. Com isso vem surgindo um novo paradigma, o “Data Mesh”, que vem para transformar essa estrutura atual e promover uma melhor qualidade e proximidade do contexto das áreas de negócio.
2. Cultura de inovação:
Inovar não é fácil, mas inovar não é sempre ter que “reinventar a roda”.
Uma das principais formas de se inovar é olhar para o “porquê” de um problema e ir coletando informações, transformando processos e tentando.
Tentar e errar faz parte da inovação (o ideal é que se erre rápido) e as empresas precisam entender que é desta forma que a área de dados conseguirá levar mais inovação para dentro da companhia.
3. Capacitação:
A oportunidade de aprendizado é um dos principais motivos que os profissionais almejam para entrar em outra empresa quando tiramos a remuneração/salário das opções.
A capacitação de profissionais da área de tecnologia é fundamental para que haja maior satisfação, melhoria da qualidade de entrega e atualização da própria empresa.
“Educação é investimento.”
Empresas como a Alura para empresas podem auxiliar na “maturidade analítica da empresa”, “quantidade de pessoas atuando com dados” e “satisfação dos gestores” se relacionarem.
Como até mesmo para o empresas do setor público, como o Banco do Brasil, que pelo meu conhecimento sobre, foge do padrão visto nos dados desta análise.
A capacitação de profissionais sobre dados, não deve ser apenas para os profissionais da área. A capacitação deve ser para todas as áreas, com o objetivo de democratizar os dados, assim como é uma prática na Hotmart.
Deve-se promover o “data literacy” (letramento de dados) para as pessoas do negócio se tornarem mais autônomas e requisitarem profissionais de dados apenas em situações mais complexas. Desta forma pode-se até mesmo aumentar o valor das análises de forma mais rápida, pois os profissionais já estão dentro deste contexto.
O letramento de dados é uma das habilidades da pessoa bibliotecária de dados (confira aqui, mais conhecimentos e habilidades deste profissional).
No meio acadêmico, auxiliará discentes e docentes/pesquisadores a melhorarem suas práticas com dados.
Já no meio corporativo, auxiliará a desenvolver estratégias e capacitações para profissionais de outras áreas da organização atuarem com dados.
Próximos passos
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E sobre o letramento de dados (“data literacy”), você já conhecia?
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Se inscrevam, pois em breve trarei mais novidades, sobe letramento de dados.
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Ainda há muito a se explorar…