Imagem digital de um corredor de uma biblioteca, em tons de azul, com livros nas estantes, iluminados por luzes amarelas.
Imagem gerada com Lexica.art

Impactos e mudanças no trabalho que a IA poderá gerar em Bibliotecas

Francisco Foz
7 min readApr 25, 2023

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Não há como negar, nos próximos anos a sociedade será impactada pelos desdobramentos dos avanços da Inteligência Artificial.

Afetará diversas áreas e com a Biblioteconomia, não será diferente.

Para entender melhor esse cenário, no texto de hoje trago alguns pontos de dois artigos que li a respeito.

Bora lá!?

Gif de um corredor de uma biblioteca com chão de madeira, na cor bege, com estantes, na cor branca, repleta de livros.

Sumário

O IMPACTO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NOS SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO

Como a inteligência artificial pode mudar o trabalho da biblioteca acadêmica?

Considerações Finais

O IMPACTO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NOS SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO

O artigo “O impacto da Inteligência Artificial nos serviços de informação: inovação e perspetivas para as bibliotecas”, de 2021, identificou duas principais áreas que a IA poderá ser aplicada para otimização dos serviços informacionais:

  1. Processamento de informação: Principalmente com informações digitais, essa nova tecnologia poderia auxiliar trabalhos ainda manuais, como o processo de catalogação de documentos bibliográficos e iconográficos; Melhorar serviços de descoberta e talvez, até mesmo auxiliar no processo de envio e avaliação de manuscritos (onde citaram um projeto piloto da Clarivate Analytics, dentro da ScholarOne Manuscripts).
  2. Organização e gestão de serviços: o desenvolvimento de novas tecnologias geram a necessidade de se inovar e criar novos serviços informacionais, principalmente em bibliotecas universitárias. As bibliotecas podem contribuir tanto para o suporte ao entendimento dos usuários sobre essas novas tecnologias, quanto para seu estudo e aplicação.

Assim como a biblioteca de Rhode Island, que criou um Laboratório de Inteligência Artificial (IA) dentro dela.

Além disso, os serviços de informação podem ser enriquecidos com ferramentas que possuem algum mecanismo de IA, como um assistente digital para encontrar novas referências ou mesmo sistemas mais robustos de recomendação.

Há alguns dias atrás, vi no Twitter, que já desenvolveram a primeira integração do ChatGPT em mecanismo de busca de e-books, o LibrarianAI da Legible Inc.

Fica a dica: Se você quiser se manter atualizado (informalmente), sobre temas da Biblioteconomia/Ciência da Informação, o Professor Pedro Andretta, da Universidade Federal de Rondônia, publica diariamente diversos links e conteúdos muito interessantes.

Siga ele lá no Twitter:

O impacto da Inteligência Artificial nos serviços de informação: inovação e perspetivas para as bibliotecas

Como a inteligência artificial pode mudar o trabalho da biblioteca acadêmica?

Já o artigo “How artificial intelligence might change academic library work: Applying the competencies literature and the theory of the professions”, de 2022, se foca em inferir a probabilidade de adesão de 11 abordagens que IA poderia ser introduzida (ou não) em bibliotecas acadêmicas.

How artificial intelligence might change academic library work: Applying the competencies literature and the theory of the professions

Elas são:

1.Projetos:

Esse item poderia ter sido denominado de Projetos/Treinamentos.

Basicamente é o desenvolvimento de projetos que introduzem essas novas ferramentas, para desenvolver as habilidades da equipe da biblioteca.

2. Não fazer nada:

O autor deixou essa opção, pois é uma possibilidade do que pode ocorrer.

Se até hoje existem bibliotecas que fazem controle de empréstimos por fichas (por decisões políticas), realmente é bem provável.

3. Licenciar um produto proprietário de IA: diversas empresas de automação de serviços informacionais estão e irão desenvolver novas ferramentas utilizando algum tipo de IA para otimizar seu produto.
Pode ser uma opção.

4. Oferecer coleções como dados para IA: bibliotecas, arquivos, museus, centros de documentação… são grandes arcabouços de informações, metadados e dados.

Nem tudo, ainda, está na Web.

Essas coleções podem servir como forma de estudo por grupos de pesquisa desenvolverem estudos.

5. Apoiar uma comunidade institucional liderada por acadêmicos de ciência de dados: a biblioteca pode oferecer serviços de treinamentos em bases de dados (informacionais), direitos autorais e até mesmo parcerias para intermediar treinamentos de novas ferramentas, para cientistas de dados da instituição.

6. Criar uma comunidade institucional de IA: a biblioteca é uma organização dentro de uma universidade/escola/sociedade que intersecciona e conecta diferentes pessoas através do objetivo de desenvolver conhecimento.

A biblioteca pode ser um “terceiro espaço” que promova e incentive o conhecimento em IA.

7. Participar da comunidade de apoio extra-institucional: Assim como a iniciativa desenvolvida em Rhode Island, a biblioteca pode se aprofundar e formalizar mais seus processos de conexão com os usuários e instituições.

Não apenas sendo um espaço de incentivo e promoção da IA, mas também de iniciativas formais, sediando capacitações e mini-formações.

8. Personalizar produtos de IA de acordo com as necessidades locais: uma vez li que “o melhor produto é aquele que é feito de acordo com suas necessidades”. Até mesmo em uma única universidade onde se tem um único sistema de bibliotecas, cada uma terá uma necessidade/problema diferente. “Soluções prontas” podem ser mais rápidas e até mais baratas, mas nem sempre resolvem, de fato, o problema.

Customização pode gerar custos e tempo, então a prévia avaliação é necessária.

9. Resistir: não aderir e se tornar resistente a novas tecnologias de IA é outra possibilidade. Há um debate ético muito forte ocorrendo (há anos já existe e com o ChatGPT só aumentou), eles podem se desdobrar em um posicionamento de resistência por parte de algumas organizações.

10 e 11. Criar uma infraestrutura independente de ferramentas e a própria IA: desenvolver estudos, ferramentas e aplicações de IA sem nenhuma ferramenta pronta pode ser um desafio para bibliotecas que não possuem conhecimento em TI e estaria “invadindo” outras áreas profissionais.

O último item me leva a uma outra contextualização que esse artigo também trouxe, a “Teoria das profissões” e o “Impacto da tecnologia no trabalho profissional”.

O que mais me chamou atenção nesse artigo foi essa relação entre o profissional bibliotecário imerso dentro do uso de novas tecnologias… nesse mundo “híbrido” de atuação.

Recomendo fortemente você ler esse artigo e depois discutirmos a respeito.

O autor fez uma tabela das possíveis atitudes do profissional bibliotecário em relação a tecnologia:

Imagem da tabela elaborada pelo autor, nas cores branca e cinza, escrito em na cor preta.
Fonte

Vou me ater às duas primeiras.

Ele faz um embasamento bem legal sobre conceitos de “profissionalismo” e “gerencialismo”.

Caso você queira saber um pouco mais sobre esses termos, indico esse artigo (que mesmo voltado para a área da educação, vale a pena a leitura):

A partir desse ponto ele traz que o profissional bibliotecário que se tornar um Especialista (sendo capaz de fazer códigos, “desenvolver tecnologias” e ter um “pensamento computacional”) estaria se tornando subordinado a área de TI.

Já um Customizador (que iria adaptar as tecnologias de acordo com as necessidades locais e ter um “fraco pensamento computacional”) iria dividir as atividades com a área de TI.

Eu particularmente, gostei do artigo pelas provocações e novas perspectivas que ele me trouxe, mas tenho críticas a forma de como ele abordou (a escala de probabilidades utilizada, são opiniões e não tem nada muito “científico” para comprovar; e o posicionamento sobre “pensamento computacional” ficou muito vago).

Como pensamento computacional, ele cita o artigo:

Se interessar, também vale a pena a leitura.

Mas o ponto que quero chegar é:

O que seria um “fraco pensamento computacional”?

Por que uma adaptação das tecnologias para as necessidades locais, sem entendimento do código, seria menos subordinado à área de tecnologia?

Onde se encaixaria a atuação da Biblioteconomia de Dados?

A princípio, o que entendo e penso: realmente novas competências e atuações profissionais fora do escopo inicial da sua formação tendem a desvalorização da mesma, entretanto há diversas nuances e níveis entre essa relação.

Claro, dentro do contexto científico (pesquisa) não há discussão, são áreas muito bem específicas e delimitadas.

Como profissional da Biblioteconomia, não vou criar um novo algoritmo, uma nova linguagem de programação, mas sim utilizar essas ferramentas para minhas próprias necessidades (nem que para isso seja necessário escrever linhas de código) profissionais e otimizar meu trabalho.

Talvez faltou um ponto de equilíbrio para entender a ênfase e avaliação do uso das linguagens de programação e novas tecnologias.

Considerações finais

Acredito que há muito campo para se explorar entre Ciência de dados, Biblioteconomia e Inteligência Artificial e ainda veremos muita coisa rolando por aí.

Há muita discussão ainda sobre novas “áreas híbridas” e gostaria de saber de você:

O que você pensa a respeito dessa “zona híbrida” da intersecção da Biblioteconomia com Ciência de dados e Inteligência Artificial?

Deixe nos comentários e vamos compartilhar conhecimento.

Se você chegou até aqui e curtiu, dê palmas, compartilhe e se inscreva para me acompanhar.

Ainda há muito a se explorar…

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Francisco Foz

Bibliotecário | Analista de dados | Disseminando informações para produzir conhecimento.