Foto da biblioteca de Sttutgart, na alemanha, com maior ênfase na luz natural. Dois andares são exibidos com estantes de livros, na cor branca, destaque para o número 6 gravado em uma delas.
Foto de Andrea G no Unsplash

Letramento informacional de dados: Como desenvolver um programa?

Francisco Foz
10 min readNov 22, 2022

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Desenvolver um programa de letramento informacional de dados é uma oportunidade para pessoas bibliotecárias implantarem em universidades, escolas e organizações de um modo geral.

Mas… por que é uma oportunidade ?

Por conta de 3 principais habilidades das pessoas bibliotecárias:

  • Capacidade de organizar e disseminar informações, que podem ser aplicados na gestão de dados;
  • Capacidade de identificação e recomendação de informações que outras pessoas possam precisar (e que às vezes ainda nem estão cientes);
  • Conhecimento da estrutura e comunicação acadêmica (sim, esse ponto fica mais restrito para pessoas inseridas em universidades).

E não sou eu quem está falando isso, mas sim os autores do livro:

“Data Information Literacy: Librarians, Data, and the Education of a New Generation of Researchers” (clique aqui para acessá-lo).

Durante o capítulo 9, descreveram como desenvolver um programa de letramento informacional de dados em uma universidade, dando diversas dicas práticas.

Caso você esteja chegando agora nesse texto, confira aqui a listagem dos demais.

E no texto de hoje, abordarei os principais tópicos do capítulo.

Bora lá?!

Gif de uma animação de três peças de lego, nas cores vermelho, azul e amarelo, sendo empilhadas e desempilhadas.

Sumário

Como começar?

Planejamento

Desenvolvimento

Implementação

Próximos passos

Considerações finais

Como começar?

Muitas dúvidas podem surgir para qualquer pessoa bibliotecária que possa desenvolver um programa de letramento informacional de dados, principalmente a conhecimentos sobre o tema, recursos necessários e até mesmo se haverá suporte efetivo das parcerias envolvidas.

O letramento informacional de dados envolve muitas áreas, conhecimentos técnicos diferentes e até mesmo características individuais de cada estrutura organizacional.

É realmente complexo.

Bom… e o que fazemos com temas ou problemas complexos?

Dividimos em etapas, planejamos e estruturamos cada uma delas para delinear todas as fases do programa.

As principais etapas que dividiremos serão:

  • Planejamento
  • Desenvolvimento
  • Implementação
  • Avaliação

E elas não necessariamente serão lineares e contínuas.

Às vezes será necessário retornar a uma etapa já realizada para utilizar uma nova abordagem.

Planejamento

Nesta fase é importante delinear como será a estrutura, as principais parcerias e mapear as necessidades de conhecimentos da comunidade da organização.

  1. Estrutura:

Geralmente novos programas não têm disponibilidade de muitos recursos, portanto pensar em uma estrutura unificada e escalável pode ser a melhor escolha.

Caso o programa seja implementado em um sistema de bibliotecas, que todas estejam com uma comunicação clara sobre o programa, sobre os responsáveis e métodos utilizados.

Implementar e investir em um formato online pode ser também a melhor abordagem, levando-se em conta a escalabilidade.

2. Parcerias:

O programa não será feito sem auxílio da docência, mas professores universitários são pessoas bem ocupadas (eles ministram aula, fazem pesquisa e ainda tem trabalhos administrativos).

Então, como estreitar as relações com os docentes?

Comunicação clara em conversas informais durante o próprio trabalho.

Ao expor de maneira clara o que a biblioteca pode fazer com o programa, podem surgir oportunidades dos dois lados ao enxergarem necessidades nos alunos.

Questionar os professores sobre como é o processo de gerenciamento de dados entre os seus alunos é uma boa forma de entender as lacunas necessárias para se trabalhar.

Fazer perguntas e entender o contexto dos professores será essencial para estreitar as relações e que podem ser mapeadas em mais de uma reunião.

Uma dica de negociação com os docentes é entender quais são as prioridades deles e oferecer um serviço que abarcar a auxiliá-los em seus desafios.

Olha as soft skills da pessoa bibliotecária de dados sendo utilizadas aqui!

Eu já escrevi sobre isso nesse texto:

3. Necessidades:

Para um bom entendimento será necessário entender as práticas da área e dos alunos.

Para a área será necessário:

Fazer uma revisão de literatura sobre a disciplina: revelando quais são as principais práticas abordadas e instituições relevantes.

Procurar repositórios de dados destas disciplinas: identificando quais são os principais requisitos deles.

Encontrar periódicos da área que publiquem dados de pesquisa: entendendo quais são as práticas já padronizadas.

Já para os alunos, será necessário:

Emergir nas práticas do departamento: para de fato saber como são os processos e práticas no dia-a-dia para identificar as oportunidades.

Entender os objetivos dos alunos: saber quais são suas prioridades, pois eles precisarão de resultados rápidos para aplicar em seus trabalhos.

Entender as habilidades que os alunos já possuem: eles já podem ter habilidades de programação e visualização de dados, mas podem não ter de gerenciamento e isso deve ser mapeado para não oferecer um serviço desconectado da sua funcionalidade.

Desenvolvimento

Planejamos toda a estrutura, firmamos parcerias e entendemos as necessidades.

Já temos todas as peças, mas como “montar o carro”?

Precisamos entender quanto tempo teremos disponível (tanto na implementação, quanto até chegarmos nela), quanto dinheiro será necessário investir, quais conteúdos serão abordados, quais conhecimentos já temos (ou se será necessário buscar novos treinamentos e novas parcerias).

Todos esses recursos devem ser equilibrados de acordo com o que se deseja.

Lembre-se: nem sempre teremos tudo, então foque no que será realmente necessário.

Para desenvolver o conteúdo, precisamos focar no usuário/aluno:

  • Quais são os objetivos e resultados que atingiremos com o programa?
  • Ele será modular?
  • Qual será a duração dele?
  • Precisará de pré-requisitos ? Se sim, quais são eles?
  • Em qual fase está o aluno? Mesmo que seja de nível de pós-graduação, ele poderá não ter tido nenhum contato com o tema antes.

Pensar em como será operacionalizado os treinamentos aos alunos também é extremamente importante.

Ninguém gosta de uma aula chata e monótona, certo?

Além de termos que demonstrar estarmos empolgados com o tema, também podemos focar em seus contextos e necessidades reais para nos aproximarmos do seu mundo e conseguirmos o máximo da sua atenção.

A escolha da melhor abordagem também deverá levar em conta todos os outros aspectos contextuais da instituição, comunidade e recursos disponíveis.

Os autores relataram diversas abordagens:

  • Minicurso
  • Curso online
  • Incorporação da biblioteca
  • Palestras e discussões
  • Palestra única
  • Workshops

Grande parte delas tem como principal fator prejudicial o tempo que deverá ser investido, exceto pela abordagem online que tem o maior potencial de escalabilidade. Entretanto será necessário pensar no melhor design instrucional devido a distância e exigirá conhecimentos específicos sobre ou realizar alguma parceria.

Implementação

O carro foi montado e agora precisamos colocar ele para andar.

Estamos desenvolvendo um projeto novo na organização e provavelmente haverá nervosismo.

Como enfrentar esse desafio?

Praticando.

Já fiz um curso que trazia diversas formas de como poderia melhorar sua comunicação e dentre delas estava a própria prática.

Se você for palestrar sobre um tema, treine na frente do espelho, treine para seu cachorro ou gato, treine para seu companheiro, seus amigos…

No final do texto indicarei alguns cursos que acho interessantes para auxiliar quem deseja implementar um programa.

Para colocá-lo em prática também será necessário atentar-se a agenda dos cronogramas da comunidade, para que se possível, sincronizar com as etapas do ciclo de vida da pesquisa.

Também ter um canal de comunicação estreito com os alunos é muito importante para coletarmos feedback e proporcionarmos uma melhor experiência (lembrando de escutar de verdade o outro lado e desenvolver ações que exemplifiquem estas mudanças).

Ao rodar o treinamento precisaremos saber se estamos conseguindo atingir os objetivos e resultados planejados para ele.

Mas como verificar?

Podemos usar das avaliações.

Um termo que pode gerar tensão para as duas partes, pois avaliações não dizem só a respeito de alunos, mas também dos métodos escolhidos pelos professores/facilitadores.

Mas elas nada mais são do que uma forma de demonstrar como os participantes conseguem demonstrar os conhecimentos ministrados.

Há diversas formas de se avaliar, mas de uma forma mais geral podemos dividir em duas principais categorias:

  • Somativa: uma análise quantitativa e pontual sobre os conhecimentos que são medidos através de notas e verificação de conceitos.
  • Formativa: uma análise qualitativa e geral sobre os conhecimentos que são avaliados como um todo.

Pode ser interessante mesclar das duas formas, mas sempre com o intuito de desenvolver o conhecimento e não a memorização de informações.

Decorar informações (processos, termos…) pode ser relevante e até facilitar em alguns casos, mas o importante é entender o contexto, os conceitos e a razão de se estar realizando cada ação.

Há também as avaliações dos alunos sobre o curso, que serão materiais muito importantes para entender o que há de positivo e o que precisa ser melhorado.

Próximos passos

O programa foi planejado, desenvolvido e implementado.

Ótimo, você conseguiu criar seu primeiro programa de letramento informacional de dados.

Mas e agora?

Como manter o programa de forma sustentável?

O programa é um sistema vivo que precisa continuamente de avaliações, investimento de tempo e recursos para manter seus objetivos e também crescer.

Os autores apontaram 3 principais ações que podem auxiliar nesse processo:

  • Identificar o que funcionou e o que não funcionou após um ciclo de treinamento.
  • Manter o compromisso do envolvimento da biblioteca com as demais áreas.
  • Investir em ferramentas educacionais escaláveis que podem ser reaproveitadas e facilmente atualizadas para atender às necessidades de um amplo público de usuários.

Ou seja:

  • Avaliação contínua
  • Comunicação
  • Tecnologia

A comunicação aqui é um fator mais complexo do que apenas um bom discurso.

A comunicação deve ser estratégica.

Estratégica para conseguir comunicar, promover e integrar todas as demais áreas da universidade.

Integrar áreas em uma organização é um fator sobretudo também político e de relacionamentos bem estabelecidos, com ações executadas em tempos e formas bem pensadas.

Considerações finais

Mais um capítulo se passou e eu ainda estou bastante surpreso sobre a quantidade de informações relevantes que ele tem, mesmo sendo um livro publicado em 2015, com atividades realizadas entre 2012 e 2014.

O livro trouxe praticamente um passo a passo muito útil de como você pode iniciar o seu próprio programa de letramento informacional de dados.

Não que eu acredite ser simples, pelo contrário, acredito ser bastante complexo devido a quantidade de habilidades necessárias, sobretudo de gestão. Entretanto um programa como esse não será realizado apenas por uma pessoa, mas sim por uma equipe que será composta com pessoas de habilidades diferentes que se complementarão.

Por falar em habilidades diferentes e complexidade, um dos incentivos que o livro trouxe foi de desenvolver uma comunidade nesta área para trocar informações, criar um aprendizado em conjunto e continuar a desenvolver ainda mais conteúdo sobre o letramento informacional de dados.

Eu gosto dessa ideia e até mesmo vejo que seria uma das vertentes dentro de um tema ainda mais abrangente que é a área da Biblioteconomia de dados.

Que por sua vez ainda é apenas uma das novas especializações que estão surgindo com o processo da digitalização passando pela área da biblioteconomia.

São realmente muitas habilidades que podem surgir para desenvolver um programa como esse ou mesmo seguir em uma “especialização” da biblioteconomia de dados sem haver um currículo formal que supra todas elas.

Mas como não existe, nós podemos ir buscando as habilidades em cursos disponibilizados ao nosso alcance.

Durante minha jornada pessoal eu encontrei a Alura e recomendo ela para quaisquer pessoa que queira aprender mais sobre tecnologia e… muito mais.

Nela você encontrará formações de vários cursos da área de ciência de dados e programação, desde o iniciante até o avançado:

Link para a formação
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Encontrará formações que poderão te ajudar a editar vídeos:

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Formações para aprimorar suas “soft skills” e de gestão:

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Além disso, a plataforma também está lançando cursos voltados para a educação e aprendizagem:

Link para a formação
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Eu fico realmente muito surpreso até hoje pela quantidade de cursos que ela oferece.

Se você tiver interesse em se tornar uma aluna ou aluno, está aqui o meu cupom de desconto especial.

Caso tenha alguma dúvida, pode me contatar em quaisquer dessas redes.

Agora me diga, você tem interesse em participar de uma comunidade sobre biblioteconomia de dados para trocarmos ainda mais conhecimentos sobre o tema?

Se você chegou até aqui e curtiu, dê palmas, compartilhe e se inscreva para me acompanhar.

Ainda há muito a se explorar.

Textos anteriores

Caso você ainda não tenha lido os textos anteriores, não deixe de conferir eles:

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Francisco Foz

Bibliotecário | Analista de dados | Disseminando informações para produzir conhecimento.