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Letramento informacional de dados: Uma introdução aos profissionais bibliotecários

Francisco Foz
5 min readJul 12, 2022

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O letramento informacional é o processo de desenvolver competências para localizar, acessar, selecionar e utilizar a informação para gerar conhecimento (adaptado de GASQUE, 2012).

Esse é um conceito bem conhecido por nossa área da biblioteconomia, entretanto com o advento da e-Science, surge a necessidade de um novo conceito: o letramento de dados (ou letramento informacional de dados ou “data literacy”).

A e-Science é o quarto paradigma da ciência, que é a prática da ciência por meio do uso da computação intensiva. A partir de dados de outras pesquisas (até mesmo de outras áreas) é possível testar, simular, correlacionar… dados para se obter resultados científicos (confira esse ebook para mais informações e também a transcrição da palestra do Jim Grey aqui, em inglês.).

Elaborado pelo autor, adaptado de Gray, 2007.

Os dados de pesquisa vão além dos dados das publicações. Para se produzir uma publicação, foram realizados diversas coletas, manipulações e testes (nem sempre os resultados são satisfatórios, mas não deixam de serem importantes para documentar o processo científico, “errar fazer parte da ciência”.

Esses dados, na maior parte das vezes, também não estão estruturados (ou no melhor dos casos semiestruturados). Podem estar em anotações em cadernos ou documentos online, como também podem estar em milhares de planilhas (sem controle de versionamento) não muito amigáveis.

O letramento de dados vem como uma competência que os pesquisadores e alunos de pós-graduação (acredito que até mesmo os de graduação se beneficiem dela) necessitam para evoluírem na pesquisas científicas contemporâneas.

“(…) o letramento de dados inclui a capacidade de ler, trabalhar, analisar e argumentar com dados como parte de um processo de investigação mais amplo.

Ler dados envolve entender o que são dados e quais aspectos do mundo eles representam.

Trabalhar com dados envolve adquiri-los, limpá-los e gerenciá-los.

Analisar dados envolve filtrar, classificar, agregar, comparar e executar outras operações analíticas sobre eles.

Argumentar com dados envolve o uso de dados para apoiar uma narrativa maior destinada a comunicar alguma mensagem a um público específico.” (Traduzido de D’Ignazio e Bhargava, 2016)

Diante deste contexto e do meu interesse em me aprofundar mais no assunto, irei iniciar a “resenha” do livro:

“Data Information Literacy: Librarians, Data, and the Education of a New Generation of Researchers”

Livro de acesso aberto e você pode acessar aqui.

Não é um livro muito novo (2015), mas acredito que também poderá ser um norteador para próximas leituras.

Hoje trago os elementos introdutórios dele e o que ele promete abordar.

Bora lá?!

Sumário

Objetivo do livro

Estrutura

Considerações finais

Objetivo do livro

Inicialmente, o objetivo dos autores era apenas de explorar as necessidades dos alunos de pós graduação em trabalhar com dados. Entretanto ao decorrer dos estudos e da proximidade com a biblioteca alguns questionamentos surgiram:

Estaríamos preparados para ensinar pesquisadores?

Quais pedagogias poderiam ser aplicadas pelos bibliotecários?

Como poderíamos ter um impacto real sobre os alunos?

Com isso, surge não apenas novas habilidades para o profissional bibliotecário, mas também um novo serviço para a biblioteca.

O livro foi guiado pelo objetivo de responder dois principais questionamentos:

1. Quais as habilidades de gerenciamento de dados e curadoria são necessárias para os futuros cientistas cumprirem suas responsabilidades profissionais e aproveitarem as oportunidades de pesquisa colaborativa em ambientes de pesquisa baseados em ciência eletrônica e tecnologia?

2. Como os bibliotecários acadêmicos podem aplicar seus conhecimentos na recuperação, organização, disseminação e preservação de informações para ensinar essas competências aos alunos?

A biblioteca se torna uma organização fundamental para auxiliar a instituição em promover o letramento de dados. Claro, em conjunto com a direção dos cursos para que as disciplinas possam ser reinventadas acompanhando as mudanças.

Estrutura

O livro foi estruturado em 3 grandes partes:

I- Apoiando o letramento de dados

II- Estudos de caso: projetos de letramento de dados

III- Seguinte em adiante

I- Apoiando o letramento de dados

Nesta primeira parte, o livro irá realizar uma contextualização histórica e técnica a partir das competências necessárias para se realizar o letramento de dados.

Dividido em 3 capítulos que abordarão, as “12 Competências do letramento de dados”, a “Aplicação das 12 competências” e nas “Reflexões em cima das aplicações”.

II- Estudos de caso: projetos de letramento de dados

Nesta segunda parte, ela é focada em trazer os relatos das experiências realizadas em 5 estudos de caso com diferente disciplinas na aplicação de projetos de letramento dados.

Estudos de caso foram:

  1. A promoção da curadoria e gestão de dados no departamento de recursos naturais.
  2. Ensino da prática de documentar códigos de software no departamento de engenharia.
  3. O ensino de metadados e outras competências para alunos de engenharia agrícola e biológica
  4. O desenvolvimento do curso de letramento de dados para alunos de pós graduação em engenharia civil.
  5. A experiência da uma oficina de sessão única sobre letramento de dados para alunos de pós graduação.

III- Seguinte em adiante

Durante essa parte, o livro traz algumas reflexões para guiar profissionais bibliotecários que querem desenvolver programas de letramento de dados.

Não como uma diretriz, mas como um relato de experiências e discussões para nortear novos profissionais nesta área emergente.

Considerações finais

O letramento de dados é uma área emergente e uma grande oportunidade para pessoas bibliotecárias não apenas se especializarem, como também promoverem um impacto nas organizações através desta datificação que passamos.

O livro será focado no mundo acadêmico, entretanto tentarei fazer uma leitura com uma visão mais abrangente, pois acredito que o letramento de dados é necessário para além do mundo das bibliotecas universitárias.

Acredito que bibliotecas escolares também possam usufruir de um letramento de dados em conjunto com um letramento informacional. Bibliotecas públicas também podem promover oficinas, comunicados (entre outras formas de comunicação) para promover um melhor entendimento dos cidadãos aos dados (principalmente de dados públicos numa visão sociopolítica). Organizações privadas, necessitam conectar as áreas de negócios com a área de dados para que gerem mais valor e para isso é necessário projetos de letramento de dados entre outras competências dentre essa “democratização de dados”.

E você, se interessou pelo assunto? Topa ler o livro e abrirmos para discussões ao decorrer das próximas semanas?

Se você chegou até aqui e curtiu, dê palmas, compartilhe e se inscreva para me acompanhar.

Ainda há muito a se explorar…

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Francisco Foz

Bibliotecário | Analista de dados | Disseminando informações para produzir conhecimento.